Agentes da Polícia Civil identificaram que já havia um ‘início de queima’ dos remédios. Foram encontradas mais de 50 caixas de medicamentos, entre eles Amoxicilina e Ivermectina.

Os medicamentos encontrados em uma casa abandonada no bairro São Francisco, na zona Norte de Boa Vista, estavam dentro de sacos de lixo e jogados até dentro de uma fossa, segundo a Polícia Civil. A suspeita é que eles seriam queimados no local. Os remédios seriam destinados para os indígenas da Terra Yanomami. Ao encontrar os medicamentos, os agentes identificaram que havia “início de queima” deles. Os medicamentos não foram catalogados pela Polícia Civil, mas os agentes estimam que tinham mais de 50 caixas de remédios entre anestésicos, anti-inflamatórios, antibióticos e outros.
“A gente viu que a dinâmica seria descartar esse medicamento queimando”, explicou Magnólia Soares, delegada titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Administração Pública (DRCAP).
A princípio, agentes investigavam denúncias sobre o tráfico de drogas quando fizeram buscas no imóvel e acharam os remédios, nessa quarta-feira (31).
A Polícia Civil constatou que os remédios eram destinados ao Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y) — órgão do Ministério da Saúde (MS) responsável pela saúde indígena Yanomami e, com isso, acionou a Polícia Federal.
Em nota, a PF informou que “não possui informações a serem disponibilizadas para imprensa sobre o caso”.
a delegada Magnólia Soares explicou que pela maneira como os medicamentos estavam parecia que a ideia era mesmo descartá-los.
“Em torno do quintal da residência nós encontramos uma fossa inativa, também com vários medicamentos jogados lá dentro. A ideia era um descarte mesmo para que não viesse à tona a localização desses medicamentos, que já estão vencidos desde 2021”, explicou Magnólia.
Imagens divulgadas pela Polícia Civil mostram frascos dos medicamentos encontrados pela Polícia Civil eram, a maioria, de:
- Amoxicilina, medicamento usado no tratamento de infecções bacterianas que causam pneumonia, uma das principais causas de mortes no território Yanomami;
- Nistatina, usado no tratamento de infecções por fungos;
- Cloridato de lidocaína, usado como anestésico;
- Ivermectina, usada no tratamento contra por vermes ou parasitas, problema também enfrentado pelas crianças Yanomami.
Os policiais civis também encontraram frascos de Permenati, remédio utilizado para o tratamento contra parasitas, como piolhos e ácaros. A suspeita é de que todos eles estavam vencidos, a maioria desde 2021.
Os frascos foram encontrados jogados em sacolas, em caixas, alguns sujos com poeira e terra. Em uma das imagens é possível ver os lotes nas caixas dos medicamentos, sendo eles: 1922002 e 1921868.
Procurada, a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, disse que repudia “o descarte dos medicamentos” e que a pasta irá colaborar com as investigações, fornecendo todas as informações necessárias às autoridades.
“Desde o início da atual gestão, o Ministério da Saúde trabalha no fortalecimento de medidas e ações para a reestruturação dos Distritos Sanitários Indígenas para retomar a assistência aos Yanomami, após anos de abandono e negligência à saúde indígena”, disse o órgão.
Operação Yoasi
Em outubro de 2023, a Polícia Federal deflagrou a segunda fase da Operação Yoasi, que investiga suspeitos de lavar recursos do desvio de medicamentos destinados ao povo Yanomami. Na ocasião, foram cumpridos 4 mandados de busca e apreensão.
Os investigados são empresário e servidores do Dsei-Y que investiram quantias de dinheiro em empresas suspeitas para tentar fazer com que parecesse que o dinheiro desviado era legal.
A primeira fase da operação, deflagrada em novembro de 2022, investigou o suposto esquema que teria deixado mais de 10 mil crianças Yanomami desassistidas, com a efetiva entrega de apenas 30% dos medicamentos adquiridos pelo Dsei-Y.
Maior território indígena do Brasil, a Terra Indígena Yanomami passa por uma grave crise humanitária e sanitária em que dezenas de adultos e crianças sofrem com desnutrição grave e malária. Desde o dia 20 de janeiro de 2023, a região está em emergência de saúde pública.
