No vídeo, a atriz faz um apelo emocionado às autoridades, pedindo providências urgentes para a situação vivida pelos indígenas da reserva.

A atriz indígena da Globo Dandara Queiroz causou grande repercussão nacional ao publicar um vídeo em suas redes sociais denunciando agressões e a falta de água na Reserva Indígena de Dourados, no Mato Grosso do Sul. Em sua gravação, ela relata as dificuldades enfrentadas pela comunidade, destacando a violência do dia 27 de novembro de 2024, onde a polícia militar e tropa de choque fez uso da força, para retirar um grupo de indigenas desarmados que faziam o bloqueio da rodovia MS -156 em protesto por água, no vídeo Dandara fala sobre a escassez de recursos básicos, como o acesso à água potável.
Denúncia emocionante
No vídeo, a atriz faz um apelo emocionado às autoridades, pedindo providências urgentes para a situação vivida pelos indígenas da reserva. Ela relata casos de agressões sofridas pela tropa de choque durante o protesto em novembro de 2024, falta de segurança e a dificuldade que os moradores enfrentam para conseguir água para suas necessidades diárias.
“Venho aqui através desse vídeo pedir ajuda de vocês porque a maior reserva indígena em contexto urbano do Brasil, que fica situada no estado do Mato Grosso do Sul, em Dourados, sofre há muito tempo com a questão da falta de água”, disse a atriz em um dos trechos da gravação.
“Eu estive lá esse fim de semana no feriado de Carnaval para poder realizar uns projetos artísticos e era um calor de 38ºC e não tinha [água] pra população. São mais de 20 mil indígenas nas aldeias Bororó e Jaguapiru. E eles não têm água.
A Splash, Dandara explicou que realiza projetos musicais e de cinema com artistas indígenas.
“Ver a necessidade daquelas pessoas, a sede, a falta de água pra se refrescar, pra tomar um banho… Isso me deixou muito triste e indignada. Como de costume, a primeira coisa foi perguntar o motivo daquela escassez. E foi assim que eu fiquei sabendo que esse é um problema recorrente daquela comunidade”.
A atriz indígena, Dandara Queiroz, que viveu Benvinda em “No Rancho Fundo” da Globo, é de origem tupi-guarani e cresceu em Três Lagoas (MS). Ela disse que chegou a distribuir os galões de água que tinha no carro: “Deixamos lá, então eu os vi racionando os litros entre as famílias que estavam ali. O caminhão-pipa vai uma vez por semana. No feriado ele não foi, então já faziam duas semanas que essas pessoas estavam sem água”.
Dandara conta em seu vídeo que viveu de perto como é o dia a dia dos moradores da reserva Indígena de Dourados que passam sem água. “Eu estive lá, eu vivi essa realidade. São crianças, são idosos, são pessoas de todas as idades. O açude que tem lá próximo onde eles também pegam água é completamente poluído por agrotóxicos das fazendas que tem em volta. Como que eles vão consumir essa água?”
Repercussão nacional
Após a publicação, o vídeo rapidamente viralizou nas redes sociais e foi compartilhado por diversas personalidades, ativistas dos direitos indígenas e organizações de direitos humanos. O caso também ganhou destaque nas mídias nacional, aumentando a pressão sobre as autoridades para que tomem medidas em relação aos problemas apontados.
Políticos e órgãos públicos se manifestaram, afirmando que estão acompanhando a situação e estudando formas de atender às demandas da comunidade indígena. No entanto, moradores da reserva afirmam que a falta de água é um problema antigo e que medidas concretas ainda não foram tomadas.
No final da manhã desta quarta-feira (12), a Sanesul informou que no “caso específico da RID, o Governo do Estado está disponibilizando ininterruptamente, 4 (quatro) cargas de água em carro pipa, por dia, de segunda a sexta-feira, a serem distribuídas nas aldeias Jaguapiru e Bororo”. O órgão diz que o procedimento será realizado até o período de construção e pleno funcionamento dos 6 poços que estão previstos para serem entregues até o dia 15 desse mês de Março, conforme orientações do DSEI/MS.
A Prefeitura de Dourados explicou que a falta de água potável na RID (Reserva Indígena de Dourados) é crônica. Alegou que se arrasta desde meados de 1990, quando os mananciais começaram a secar e o consumo aumentou em razão do crescimento populacional.
A atual gestão, que assumiu em janeiro, admite em nota que “tem olhado a questão com preocupação”. O executivo municipal também atribuiu a responsabilidade da oferta de água como sendo do governo federal “que não tem conseguido solucionar o problema”, informa em nota.
A Prefeitura diz ainda que tem cobrado a rapidez no processo de licitação para perfuração de “superpoços artesianos”, porém eles não seriam suficientes. “O sistema de distribuição de água potável na Reserva Indígena é deficitário, de forma que a água não chegará a todos os lugares mesmo com a perfuração dos poços”, reconhecem.
Mobilização e expectativa por mudanças
Diante da grande repercussão, movimentos indígenas e entidades de direitos humanos planejam mobilizações para cobrar soluções imediatas. A expectativa da comunidade é que, com a visibilidade gerada pelo vídeo da atriz, a situação da Reserva Indígena de Dourados finalmente receba a atenção necessária para garantir melhorias na qualidade de vida dos moradores.
Dandara Queiroz afirmou que mesmo com a visibilidade do seu vídeo, não houve um pronunciamento oficial. “O vídeo teve repercussão no sentido de expor uma realidade que muita gente não faz ideia que acontece. Muitas pessoas marcaram os órgãos responsáveis e compartilharam. Mas até agora, não tivemos nenhuma resposta, nenhum pronunciamento”, disse a Splash.
Dandara Queiroz costuma visitar a reserva indígena, pois mantém projetos com artistas locais
Imagem: Arquivo pessoal
Ela lembra que o projeto prometido em novembro não está pronto e que os caminhões-pipas que abastecem as casas na RID não são suficientes. “O meu intuito era chamar atenção pra esse descaso, cobrar as soluções que no máximo até março os poços estariam em funcionamento para toda a comunidade”.
Por meio de nota, o MPI (Ministério dos Povos Indígenas) informa que o direito à água e ao saneamento “é garantido pelo Governo Federal sob a competência da Secretaria de Saúde Indígena, do Ministério da Saúde”. A pasta diz que atua em articulação com com o Ministério da Saúde e outros órgãos para “avançar em medidas estruturantes com foco no abastecimento nas aldeias de todo o país”.
O MPI diz ainda que há três projetos em andamento focados na garantia de água potável na RID. Um deles prevê a construção de dois poços de água como ação emergencial com a destinação de R$ 2 milhões em recursos. Há a perfuração de poços em conjunto com a UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) totalizando até 20 poços — são sete no momento —, e 30 caixas d ‘água para as famílias.
Há ainda um terceiro projeto em curso que prevê a construção de sistemas de abastecimento de água com recursos do Focem (Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul). Ao todo são R$ 80 milhões investidos no projeto, com quase R$ 22 milhões previstos para serem executados em comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul, segundo o MPI.
