Recentemente a equipe conseguiu impedir um caso de suicídio da mesma forma, ao vivo: “A gente acionou o corpo de bombeiros e a polícia militar”.

Foto: Divulgação

Policiais e promotores de diferentes regiões do país estão se infiltrando em comunidades online — especialmente no Discord — para combater crimes brutais contra menores de idade. Entre as violações mais comuns estão a chantagem com fotos íntimas, indução à automutilação, estupro virtual e incitação ao suicídio. Em 2023, crimes estavam sendo praticados no Discord.

Prisão de abusadores

Em novembro, a polícia fez uma operação contra um destes grupos prendeu dois maiores e apreendeu quatro menores de idade. Um dos presos, o soldado do exército Luíz Alexandre de Oliveira Lessa, que se intitulava o ‘Hitler da Bahia’. Eles são investigados por aliciar e assediar crianças e adolescentes, pornografia infantil, induzir a automutilação e suicídio, e organização criminosa, entre outros crimes.

A defesa de Luíz Alexandre nega veementemente as acusações e diz que ele tem total disposição de colaborar com as autoridades. Já o exército informou que Luíz sofreu diversas punições disciplinares enquanto esteve na corporação e foi excluído do serviço em janeiro.

Discord investigado
Os próprios responsáveis pela plataforma Discord também estão sendo investigados.

“Em tempo real, uma tortura psicológica. Pedimos para que derrubasse a live que acabaria com esse crime. Eles negaram uma vez alegando que não era um caso de gravidade”, conta Guilherme Derrite, secretário de segurança.

“É inadmissível que uma plataforma não colabore com as autoridades policiais para que um crime seja cessado”, diz.
Em nota, o Discord disse que as ações horríveis dos grupos investigados nessa operação não têm espaço na plataforma e que conta com equipes especializadas dedicadas a combater esse tipo de grupo criminoso.

As denúncias contra conteúdo criminoso no Discord aumentaram 272% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado.

“Eles evoluíram em alguns pontos, no que diz respeito, por exemplo, à detecção de imagens de abuso sexual infantil. Eles usam algoritmos de detecção automática para remover estes conteúdos. Houve um avanço no que diz respeito à cooperação com autoridades, mas isso se limita ao pós-fato,”, explica Thiago Correa Tavares, presidente da Sefernet Brasil e professor de Direito de Tecnologia. “Quando a plataforma começou a atuar no Brasil eles sequer tinham um canal para as autoridades requisitarem este tipo de dado. Disse.

O que leva à radicalização de jovens na internet?
“A radicalização dá a eles um sentido de vida ou de morte que até, então, eles não tinham”. O alerta vem do procurador que coordena o Núcleo de Prevenção à Violência Extrema, fundado há um ano pelo Ministério Público Gaúcho, Fábio Costa Pereira.

“Este sujeito vai deixando uma série de rastros, uma série de sinais”, explica.

De acordo com o projeto, há três causas principais para o isolamento e a radicalização dos adolescentes: o excesso de exposição às telas, problemas nas famílias e o bullying.

Desde que o núcleo foi criado, há pouco mais de um ano, já foram identificados 178 adolescentes e jovens com tendência à radicalização ou à violência extrema aqui no Rio Grande do Sul.

Uma jovem do interior gaúcho relata a saída para o isolamento e o bullying foi ficar fechada em seu quarto com a tecnologia:

“Antes, quando eu era menor, eram só piadinhas, com o tempo começou a ir pra agressões físicas, abusos, roubos, estragavam minhas coisas”.
“Era como se fosse uma família muito grande, que entendia tudo que eu falava, sabe? Induziam a automutilação. Induziam a maus-tratos. Induziam a pornografia”, conta a jovem.

A mãe percebeu que algo estava errado. “E eu perguntava, mas o que é que está havendo? E ela dizia nada e não contava. Só que eu não tinha noção de que as coisas que ela estava passando não era só bullying, era assédio, era tortura”, diz a a responsável, em anonimato.

O Ministério Público chegou a esse caso quando passou a monitorar as redes sociais de um jovem, que fazia apologia à violência na internet, com quem ela falava. A promotoria descobriu ainda que um pedófilo também mantinha contato com ela. Os dois assediavam a vítima e foram presos.

A jovem foi acolhida e segue sendo monitorada pelo Ministério Público. Ela se reaproximou da família e, atualmente, aos 18 anos, faz faculdade de psicologia.