O jornal The Time Indígena MS apurou que os 35 indígenas originários,  eram na verdade da aldeia Limão Verde, e foram resgatados de condições análogas à escravidão no interior do estado de São Paulo.

Os 35 Indígenas embarcando no ônibus na aldeia Limão Verde – Foto: Divulgação/ Redes sociais

A equipe do jornal The Time Indígena MS, esteve na tarde de ontem (08) na aldeia Amambaí buscando esclarecer os detalhes do recente resgate de 35 indígenas Guarani Kaiowá e Guarani Ñandeva, ocorrido em 17 de março no estado de São Paulo, o jornal esteve na aldeia Amambaí para conversar com o capitão Flaviano Franco, liderança local.

Segundo o capitão Flaviano, um ônibus partiu da aldeia Limão Verde com 35 indígenas. A liderança da aldeia Limão Verde Delfino Borvão teria autorizado o embarque desses trabalhadores para trabalhar em um Frigorífico no Estado de São Paulo. No entanto, a liderança da aldeia Amambaí afirma que tentaram levar trabalhadores da sua aldeia sem o seu consentimento.

Em redes sociais, uma pessoa próxima ao capitão da aldeia Limão Verde, publicou. ” Liderança atual da aldeia Limão Verde, está trazendo emprego para ajudar as comunidades “. ” Mais de 35 indígenas saíram para trabalhar em São Paulo, com ajuda da liderança”. Finalizou.

Lembrando que a liderança atual tem dois capitães, sendo o Delfino eleito no primeiro turno, mas que foi anulado devido suspeitas de fraudes durante a votação e feito uma segunda votação foi eleito o capitão Odeir.

O recrutador desses 35 indígenas foi identificado como Bastião Hilário, morador da aldeia Amambaí e ex-candidato derrotado na recente eleição para cacique, sendo opositor à atual liderança. “No grupo de WhatsApp da aldeia, avisei sobre o recrutamento indevido, sem autorização”, relatou Fabiano.

Sobre os 5 trabalhadores supostamente da aldeia Amambaí, o capitão Flaviano, afirmou não conhecer nenhum deles. Ele também levantou a hipótese sobre quem poderia ter feito a denúncia: “Acredito que seja alguém dos trabalhadores, ou seja, o próprio Bastião Hilário, que já se passava anteriormente por liderança na colheita da maçã”.

Flaviano ainda sugeriu que a menção dos 35 indígenas resgatados como sendo da aldeia Amambaí poderia ser uma retaliação: “Eu cortei Bastião Hilário de cabeçante da colheita da maçã por prática de falsidade ideológica e por negociar os direitos dos trabalhadores com empresas, tipo, ele fazia trabalhar já com contrato vencido”.

Bastião Hilário é natural da aldeia Teyikue, em Caarapó, e reside na aldeia Amambaí há cerca de 10 anos. A liderança da aldeia Amambaí lamentou a frequência com que casos de aliciamento para trabalho em condições análogas à escravidão ocorrem nas aldeias de Mato Grosso do Sul, mas ressaltou a atuação constante do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Polícia Civil no combate a esse tipo de crime.

Entenda o caso

Segundo informações, sendo essas falsas, de que 35 indígenas originários da aldeia Amambai, sendo que na verdade eram da aldeia Limão Verde, foram resgatados de condições análogas à escravidão no interior do estado de São Paulo. A operação de resgate, realizada no dia 17 de março, foi divulgada pelo canal oficial do governo federal.

Segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT), os trabalhadores indígenas, pertencentes às etnias Guarani Kaiowá e Guarani Ñandeva, foram encontrados em situação degradante no município de Pedreira, onde trabalhavam na coleta de frangos para uma empresa terceirizada que presta serviços a um grande frigorífico da região.

Os indígenas trabalhavam sem qualquer equipamento de proteção individual e não possuíam registro em carteira de trabalho ou exame médico admissional. A situação encontrada pelos fiscais revelou graves violações de direitos humanos e trabalhistas.

“Por não haver espaço suficiente nos quartos, parte deles dormia nas varandas, sujeitos ao frio e chuva, na garagem, onde havia baratas e percevejos, no corredor da casa ou na cozinha, junto ao botijão de gás”, informou o MPT em nota oficial.

O alojamento consistia em uma casa com apenas três dormitórios, um chuveiro e dois vasos sanitários para acomodar os 35 trabalhadores. Não havia armários para guardar pertences pessoais, nem mesas ou cadeiras para refeições.

“Não havia espaço para lavar ou secar roupas, e alguns trabalhadores estavam usando a mesma vestimenta há duas semanas. O alojamento, além de sujo e fétido, não possuía qualquer condição digna de moradia”, acrescenta o documento.

A alimentação disponível no momento da fiscalização se limitava a “um arroz empapado sobre o fogão”. Além disso, os trabalhadores eram obrigados a compartilhar a mesma fonte de água utilizada pelos animais da propriedade.

Falsas promessas

De acordo com as investigações do MPT, os indígenas foram recrutados diretamente na aldeia Amambai sob falsas promessas de condições dignas de trabalho. O aliciamento incluía garantias de registro formal em carteira, alojamento adequado com camas e armários, banheiros em boas condições e alimentação custeada pelo contratante.

A operação revelou indícios de tráfico de pessoas, com a descoberta de que o cacique da aldeia recebeu R$ 70 por cada trabalhador encaminhado para o frigorífico, configurando uma rede de aliciamento que explora a vulnerabilidade da comunidade indígena.

Os trabalhadores haviam chegado a Pedreira há aproximadamente 15 dias e atuavam diariamente em propriedades rurais diferentes, sempre na coleta de frangos.