“Ao usar tarifas como arma para exercer a máxima pressão em benefício próprio, os EUA estão se colocando contra o resto do mundo”, afirmou o ministro chinês.

Os desafios do presidente Xi Jinping para superar EUA e se tornar a China a maior potência econômica do mundo (Foto: Feng Li/Getty Images)

Após indicar que estava aberto ao diálogo, o governo chinês afirmou nesta quinta-feira (10) que não recuará na guerra tarifária com os Estados Unidos e disse que os EUA estão “se colocando contra o resto do mundo”.

A Embaixada da China em Washington afirmou que “não recuaremos” e disse que o governo de Xi Jinping não tem medo de provocações.

O ministro do Comércio chinês também afirmou que “lutaremos até o fim”, acusou os EUA de sabotarem as regras do comércio internacional e disse que o governo de Trump só está conseguindo ganhar inimigos no mundo.

“Ao usar tarifas como arma para exercer a máxima pressão em benefício próprio, os EUA estão se colocando contra o resto do mundo”, afirmou o ministro.

“Embora a China permaneça aberta a conversas, qualquer negociação deve ser baseada no respeito mútuo e conduzida em pé de igualdade. Se os EUA estiverem determinados a travar uma guerra comercial, a China lutará até o fim”, disse, em comunicado. “Pressão, ameaças e chantagem não são a maneira certa de lidar com a China. Não permitiremos, de forma alguma, que alguém tire os direitos e interesses legítimos do povo chinês, ou que alguém sabote as regras do comércio internacional e o sistema multilateral de comércio”.

Na noite de quarta-feira (9), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se disse confiante em chegar a um acordo com Pequim e elogiou o presidente chinês, Xi Jinping.

“Ele é meu amigo, o presidente Xi (Jinping). Eu gosto dele, eu o respeito, (…) é um cara inteligente que ama seu país, isso é um fato, eu o conheço muito bem”, disse Trump durante uma sessão de perguntas e respostas com jornalistas no Salão Oval da Casa Branca na noite de quarta-feira (9).
Na conversa, o presidente norte-americano afirmou ainda estar esperançoso de que chegará a um acordo com o líder chinês para estancar a guerra tarifária. “Eu acho que ele vai querer chegar a um acordo, acho que isso acontecerá”.

Até a última atualiação desta reportagem, Xi Jinping ainda não havia se pronunciado sobre a guerra tarifária que vem travando contra Trump na última semana.

Em uma guerra tarifária sem precedentes, EUA e China vêm aplicando aumentos mútuos de tarifas desde que Trump anunciou seu “tarifaço” — um pacote de tarifas extras a dezenas de países no mundo inteiro —, que incluia aumento de 34% nas taxas aplicadas a produtos chineses que entram nos EUA.

Pequim retaliou, aumentando as tarifas a produtos norte-americanos também em mais 34%. Os EUA se irritaram e passaram as taxas de produtos chineses para 84%. Pequim então comprou a briga e anunciou tarifas de 84% aos produtos dos EUA.

O último aumento ocorreu na tarde de quarta-feira (9), quando o governo norte-americano anunciou que produtos chineses passariam a ser taxados em 125%.

‘Vamos passar a perna neles’

O tom de Trump na noite de quarta-feira foi bem mais ameno que o do dia anterior, quando ele acusou Pequim de “sempre ter passado a perna” nos cidadãos norte-americanos e afirmou que, agora, fará o mesmo.

“Eles sempre nos passaram a perna a torto e a direito. Vamos agora passar a perna neles”, disse Trump durante um jantar do Comitê Nacional Republicano para o Congresso, na noite de terça-feira (8).
A declaração se refere ao aumento da tarifa aplicada pelos EUA a produtos chineses. Mais cedo, também na terça, Washington anunciou que a taxa aos produtos da China passarão a 104%, após Pequim retaliar o “tarifaço” de Trump na semana passada com taxas maiores a produtos norte-americanos.

Nesta quarta-feira, o governo chinês criticou a fala do presidente dos EUA e o acusou de “bullying” e “atos intimidatórios”.

“Os EUA continuam a abusar das tarifas sobre a China. A China se opõe firmemente e jamais aceitará tais atos hegemônicos e de bullying”, disse o ministro das Relações Exteriores chinês.
“Se os EUA realmente desejam abordar as questões por meio do diálogo e da negociação, devem demonstrar uma atitude de igualdade, respeito e benefício mútuo. Se os EUA estiverem determinados a travar uma guerra tarifária e comercial, a China continuará a responder até o fim”.

Mais tarde, Pequim voltou a retaliar os EUA e anunciou um novo aumento de tarifa aos produtos norte-americanos, que agora passaram a ser de 84%.

‘Puxando o saco’
Também no jantar de terça-feira, o presidente Donald Trump afirmou que líderes mundiais estão “puxando seu saco” para conseguir negociar as tarifas recíprocas.

“Estou te falando, esses países estão nos ligando, puxando o meu saco. Eles estão doidos para fazer um acordo. ‘Por favor, por favor, senhor, me deixe fazer um acordo'”, disse.
Em inglês, Trump usou a expressão “kissing my ass”, que significa “bajular” e também pode ser traduzida como “puxando o saco”. A tradução literal da expressão é “beijando o meu traseiro”.
Esse novo capítulo do “tarifaço global” dos EUA começou no último dia 2 de abril, quando Trump anunciou taxas de importação sobre 180 países de todo o mundo. As tarifas variam entre 10% e 50%.

As taxas individualizadas começaram a valer à 1h desta quarta (9). No último sábado (5), as tarifas gerais entraram em vigor.

Trump também acusou a China de manipular “a moeda para compensar tarifas”.

“Tem que dar o braço a torcer. Eles estão manipulando a moeda hoje como uma forma de compensar as tarifas”, disse Trump no evento.
Tarifaço afeta, principalmente, a China