A história de Rael é um retrato, entre tantos outros, de tendências que imperam sobre o mercado de trabalho: a retomada do presencial e a queda na oferta de vagas home office.

Foto: Divulgação/Arquivo

Quando o relógio marcava 6h, Rael Souza, morador de Santo André (SP), já estava pronto para mais um dia de trabalho. A ida e volta até ao escritório, na zona sul de São Paulo, incluía uma caminhada de 20 minutos, dois ônibus, dois trens e dois metrôs. Quase 5h de deslocamento por dia, cinco dias por semana.

O jovem profissional de TI trabalhava remotamente até o ano passado, mas sua empresa foi adquirida por outra, que exigia o presencial no escritório. Em quatro meses, ele preferiu pedir demissão e passar a atuar como motorista de aplicativo.

“Era desgastante. Não tinha tempo para me cuidar e já chegava cansado no trabalho, o que afetou a minha produtividade. Não via perspectiva e repensei minha carreira.”

A história de Rael é um retrato, entre tantos outros, de tendências que imperam sobre o mercado de trabalho: a retomada do presencial e a queda na oferta de vagas home office.

Em paralelo, o mercado de trabalho brasileiro está em franco aquecimento, o que favorece a mobilidade de emprego. Assim como Rael, quase 8,5 milhões de trabalhadores deixam seus empregos de forma voluntária em 2024.

O Ministério do Trabalho realizou uma pesquisa com 53.692 desses demissionários, e revelou que o fim do trabalho remoto pode ter influenciado para que os profissionais tenham deixado o emprego.

Além disso, um levantamento com 3,5 mil profissionais de todo o mundo mostrou que 33% dos executivos que tiveram que voltar ao escritório estão pensando em deixar suas empresas por causa disso. O estudo foi realizado pela Gartner, uma empresa de pesquisa em recursos humanos.

Problemas com mobilidade, como tempo de viagem e lotação, não são os únicos fatores que têm contribuído para a impopularidade do presencial.

Medo de assaltos, importunação sexual, falta de tempo para se qualificar, e cuidar da saúde e passar mais tempo com colegas de trabalho do que com a própria família são outras motivações que levaram profissionais entrevistados rejeitarem empregos presenciais, mesmo que isso significasse perdas financeiras.

Presencial é um inferno
Mesmo com formação em Mecânica, Tecnologia da Informação e pós-graduação em Psicologia Organizacional e Gestão de Projeto, a mudança abrupta para o trabalho presencial levou Rael a pedir demissão para atuar temporariamente como motorista de aplicativo.

A ideia é juntar o valor necessário para custear uma viagem para Austrália, onde ele pretende ficar um tempo até aprimorar o inglês e aumentar sua experiência profissional.

“Também busco qualidade de vida, coisa que eu não estava tendo”, afirma Rael, que admite que seus planos podem mudar apenas se conseguir uma oportunidade remota.
A lotação do transporte público é uma das queixas mais comuns entre trabalhadores presenciais. Com cada vez mais empresas retornando aos escritórios, a tendência é de piora, já que o número de usuários tem aumentado gradualmente.