Os coalas já são oficialmente listados como espécie ameaçada em Queensland, Nova Gales do Sul e no Território da Capital Australiana. Além da clamídia, eles enfrentam colisões em estradas, desmatamento e queimadas cada vez mais frequentes.

Apesar do avanço científico, a aplicação em larga escala ainda é alvo de debate. — Foto: Darren England/AAP Image via AP

A Austrália aprovou a primeira vacina do mundo para proteger coalas da clamídia, doença que causa infertilidade, cegueira e até morte no animal símbolo do país. A medida foi anunciada na quarta-feira (10) após mais de uma década de pesquisas da Universidade da Sunshine Coast, em Queensland.

Segundo os cientistas, o imunizante de dose única reduziu em 65% a mortalidade por clamídia em populações selvagens e diminuiu a probabilidade de os animais desenvolverem sintomas durante a fase reprodutiva. A aprovação pelo regulador de medicina veterinária libera agora o uso da vacina em hospitais de vida selvagem, clínicas veterinárias e também em campo, para proteger populações mais vulneráveis.

“Sabíamos que uma vacina sem necessidade de reforço era a resposta para frear a rápida e devastadora disseminação da clamídia, responsável por até metade das mortes de coalas em algumas populações”, disse o microbiologista Peter Timms, líder do estudo.

Divergências sobre a estratégia
Apesar do avanço científico, a aplicação em larga escala ainda é alvo de debate. A Australian Koala Foundation questiona se os recursos não deveriam ser priorizados na preservação do habitat.

“Como alguém pode achar que é possível vacinar 100 mil animais? É simplesmente ridículo”, afirmou Deborah Tabart, presidente da entidade. Para ela, a destruição das áreas de floresta explica a fragilidade dos coalas diante das infecções. A fundação estima que haja menos de 100 mil animais na natureza, enquanto o Programa Nacional de Monitoramento aponta uma população entre 224 mil e 524 mil.

Na mesma linha, o Conselho de Conservação de Queensland acolheu a notícia, mas reforçou que a perda de habitat causada por incêndios, mudanças climáticas e expansão urbana continua sendo a principal ameaça.

Espécie ameaçada
Os coalas já são oficialmente listados como espécie ameaçada em Queensland, Nova Gales do Sul e no Território da Capital Australiana. Além da clamídia, eles enfrentam colisões em estradas, desmatamento e queimadas cada vez mais frequentes.

De acordo com uma avaliação de 2020 do governo de Nova Gales do Sul, os coalas podem desaparecer do território até 2050 se as pressões não forem controladas.

Investimento público
O desenvolvimento da vacina recebeu apoio dos governos federal e estaduais. O ministro do Meio Ambiente, Murray Watt, lembrou que o projeto foi financiado pelo Fundo de Salvamento dos Coalas, de 76 milhões de dólares australianos (cerca de US$ 50 milhões).

“Sabemos que os coalas precisam de ajuda para combater doenças como a clamídia. É uma ameaça generalizada que afeta sua saúde reprodutiva e causa infertilidade”, disse Watt.
Os cientistas destacam que, ao contrário do tratamento com antibióticos — que pode prejudicar a digestão das folhas de eucalipto, única fonte alimentar dos coalas — a vacina não interfere na dieta.