O metanol pode provocar insuficiência pulmonar e renal. Apenas testes de laboratório são capazes de confirmar a presença da substância em bebidas alcoólicas adulteradas.

Bar Amarelinhos, no Itaim Bibi, relata queda no número de clientes — Foto: Bervelin Albuquerque/g1

Os bares de São Paulo foram impactados com os recentes casos de intoxicação por metanol. Enquanto uns relatam queda no número de frequentadores, outros deixaram de vender destilados, e alguns receberam mais pedidos por cervejas e chopes.

O Brasil registrou 59 notificações relacionadas à intoxicação por metanol até a tarde de ontem (02), segundo informou o ministro da Saúde Alexandre Padilha durante coletiva de imprensa. Dessas 59, 11 já têm a detecção laboratorial da presença do metanol.

O metanol é um álcool usado industrialmente em solventes e outros produtos químicos, é altamente perigoso quando ingerido. Inicialmente, ataca o fígado, que o transforma em substâncias tóxicas que comprometem a medula, o cérebro e o nervo óptico, podendo causar cegueira, coma e até morte. Também pode provocar insuficiência pulmonar e renal. Apenas testes de laboratório são capazes de confirmar a presença da substância em bebidas alcoólicas adulteradas.

Itaim Bibi
No Amarelinho das Batidas, o garçom Fábio, que trabalha há 10 anos no bar, admitiu que houve redução de clientela: “Qualquer um que disser que não mudou está mentindo. O movimento caiu muito. Aqui mesmo era para estar cheio”.

Segundo ele, o movimento nas três unidades está em menos da metade do normal, pior até do que durante a pandemia. “Poucos drinques têm saída, os clientes estão preferindo cerveja. Em outra unidade, tínhamos três eventos agendados, mas todos foram cancelados”, afirmou.

Um cliente resumiu o sentimento atual sobre os destilados: “Caipirinha não dá mais para beber. Tem que estar sempre alerta como um escoteiro”, disse ao telefone enquanto esperava um amigo e tomando uma cerveja.

O garçom Fábio relatou ainda que o reflexo se estende para além dos bares centrais: “Até nas adegas da quebrada por onde moro, no Campo Limpo, caiu”.

No Carambolas, o proprietário Fernando Souza Lemos disse que os clientes questionam mais sobre a procedência das bebidas. O bar passou a guardar comprovantes e notas fiscais e tem segurado o estoque de destilados.

No Boteco São Bento, o gerente Santilino Souza relatou mudanças no consumo: maior procura por chope e cerveja e queda nos pedidos de destilados.

“Ontem [quarta], a movimentação foi normal, mas os pedidos por destilados diminuíram”, disse.

No Zé Gordo, um grupo de quatro amigos contou que pensou sobre o que beberia antes de chegar, mas optou pela cerveja. “Preferimos mais cerveja, parece mais seguro”, disse um deles, que não quis se identificar.

Berrini
No Caires, a mudança foi perceptível: “As pessoas têm optado mais pela cerveja”, disse o gerente. As bebidas quentes têm saído menos.

No Tatu Bola, o gerente Willams Nascimento relatou cancelamento de uma reserva prevista. Desde o começo da semana, o bar suspendeu a venda de destilados e trabalha apenas com cerveja.

“Ontem [quarta-feira], quando determinamos não vender destilados, sentimos queda no orçamento”, afirmou.

No Charme do Brooklin, a rotina segue estável. Segundo o responsável pelo bar, Vladmir, não houve queda no movimento.

Pinheiros
Funcionários do Baixo Bar afirmaram que a movimentação não caiu muito. O que mudou, mais uma vez, foi a preferência: clientes têm trocado os destilados por cerveja ou chope.

No Piticos, o atendente César contou que o estabelecimento cancelou por hora a venda de destilados. Apesar das distribuidoras estarem regulares, a decisão foi tomada para evitar riscos diante da falta de clareza sobre a origem dos casos. Atualmente, o bar serve apenas cerveja e vinhos.

Entre os clientes, a cautela também é percebida. Letícia, que trabalha em um banco, contou que costuma beber drinks, mas desta vez preferiu cerveja. “Na última sexta-feira bebi uma caipirinha em Barueri e fiquei com medo”, disse.